No Brasil a desigualdade racial ainda tem o abismo muito profundo. É o que revela a Organização das Nações Unidas (ONU). No mercado de trabalho, negros e pardos enfrentam mais descasos e dificuldades na progressão da carreira, na luta pela igualdade salarial e são mais vulneráveis ao assédio moral, afirma o Ministério Público do Trabalho.
Nas ruas e no cotidiano isso não é diferente e segundo o Atlas da Violência de 2019, revela que 75,5% dos negros no Brasil sofrem violência e desses, além de ser vítimas de assassinatos, são taxados com algum tipo de agressão verbal ou física, sempre com o intuito de constranger a outra pessoa.
É o caso desta jovem, hoje com 19 anos que preferiu omitir sua identidade; e relata o preconceito racial sofrido dentro do ambiente de aprendizagem e que até hoje carrega as marcas vividas no passado pela intolerância racial.
Minha infância sempre foi sofrida, neste sentido, na escola eu era jogada à escanteio por conta da minha cor, eu via nos intervalos todos se divertindo, enquanto eu ficava sozinha no banco refletindo em como eu poderia ter sido feliz se o preconceito com a nossa Raça não existisse.
Será que já paramos para nos colocar no lugar do outro e pensar em como os adjetivos proferidos contra o próximo são carregados pela vida toda? E os xingamentos que se equiparam a um tapa na cara? Ego? Austeridade diante do outro? São perguntas que frequentemente nos fazemos sobre nosso comportamento dentro e fora do meio social. É o caso deste jovem, hoje com 26 anos que também não quis se identificar.
Preto, simulação de ‘banana’ para nós, não tenho vergonha de dizer que já morei em favela, subúrbio, e onde eu morava aprendi muita coisa, se tem uma coisa que eu sei é que a vida é a nossa melhor professora e com tempo você aprende a fazer do sofrimento vivido na infância em meio aos xingamentos, o seu fortalecimento e aprende a se levantar e enfrentar as coisas de cabeça erguida.
Panorama do preconceito
No infográfico abaixo, percebemos que além do caminho já percorrido no combate ao preconceito, há ainda uma lacuna enorme a ser preenchida, como por exemplo, a taxa de analfabetismo entre negros é quatro vezes maior que entre brancos.
De acordo com a Psicóloga Marlene Novaes, o racismo no brasil ainda é muito enraizado e isso prejudica também a inserção e o preenchimento das cotas raciais tanto nas escolas quanto nas universidades.
“Na psicologia é muito difícil ver um psicólogo negro, ou até no próprio curso, o racismo sofre várias mudanças e dentro destas mudanças é que encontramos a desigualdade social, política, econômica e que afeta de certa forma a vida das pessoas, isso está sustentado nas crenças de que existe raças superiores e inferiores, isso está enraizado no imaginário social. Falar sobre o racismo e o sofrimento psíquico que o preconceito prevalecente traz é um tema urgente e necessário, pois traz traumas e acarreta em muitos casos o interesse de seguir em frente”, ressalta.
Falar sobre o racismo e o sofrimento psíquico que o preconceito prevalecente traz é um tema urgente e necessário, pois traz traumas e acarreta em muitos casos o interesse de seguir em frente.
Resgate Histórico
Em janeiro de 1989, foi sancionada a lei nº 7716, que tipifica como crime qualquer manifestação, direta ou indireta, de segregação, exclusão e preconceito com motivação racial. Essa lei representa um importante passo na luta contra o preconceito racial e prevê penas de um a três anos de reclusão aos que cometerem crimes de ódio ou intolerância racial, como negar emprego a pessoas por sua raça ou acesso a instituições de ensino e a estabelecimentos públicos ou privados abertos ao público. Quando o crime de incitação ocorrer em veículos de comunicação, a pena pode chegar a cinco anos. Essa lei também torna crime a fabricação, divulgação e comercialização da suástica nazista para fins de preconceito racial.
Desde 2015, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei do então Senador da República Paulo Paim (PT – RS) que modifica o Código Penal brasileiro, tornando o racismo um agravante para outros crimes. Se implantado, o projeto de lei resultará em penas mais severas para os crimes de lesão corporal e homicídio, quando estes resultarem de ódio e preconceito racial.
Convite à reflexão
Fica a seguinte pergunta: até quando durará essa percepção de que o negro não merece espaço na sociedade e não merece altos cargos nas empresas, até onde vai esse preconceito ultrapassado, assim como tantos outros diante de uma sociedade com vários recursos que podem ser usados para ajudar a “reeducar” nosso meio social e ajudar a quebrar todo o preconceito enraizado no nosso meio?